Autora do Hino de Ferraz de Vasconcelos fala sobre história e composição para a cidade

Autora do Hino de Ferraz de Vasconcelos fala sobre história e composição para a cidade

Célia Augusta de Araújo é uma das figuras mais emblemáticas da história de Ferraz de Vasconcelos. Foi autora do Hino da cidade e a primeira chefe de Expediente da Prefeitura, em 1961. Ajudou a organizar a 1ª Festa da Uva da cidade e desempenhou trabalhos importantes junto aos prefeitos. Hoje, aos 92 anos, vive em Cotia-SP, mas nutre a paixão pelo município que a acolheu. Foi a pioneira na alfabetização de jovens e adultos e teve seu trabalho reconhecido pela Secretaria de Estado da Cultura. Também ganhou o título de Cidadã Ferrazense, da Câmara Municipal. Venha conhecer um pouco mais da incrível história de Célia.

“Visualizei um desfile passando na Avenida naquele município, com a Banda tocando um Hino. A melodia eu a ouvi na minha mente e senti uma forte emoção”, conta Célia em sua biografia, referindo-se a composição do hino.

Filha de Maria Conceição Araújo e Ricardo Samuel Araújo teve uma infância permeada pela arte. Seu pai era pianista, compositor, poeta e a mãe pintora – chegou a expor seus quadros no Salão Paulista de Belas Artes. Herdou ambos os talentos. Aos 92 anos, atualmente ela mora sozinha em Cotia, interior de São Paulo, mas recorda com muito amor e saudosismo o tempo que viveu em Ferraz de Vasconcelos. Ela recebeu a equipe da Secretaria de Comunicação (Secom) e de cara fez logo uma pergunta: “As crianças cantam o hino? Queria muito que elas cantassem. Não deixe nunca que a história se perca”. Lúcida mas com grande perda auditiva ela lembra de sua atuação no setor administrativo da Prefeitura e o como ajudava em diversas outras áreas, como a organização da Festa da Uva Fina. Também dividia seu tempo com o Coral da cidade.

Datilografou a própria biografia que se tornou livro. Sua história se mistura com a construção e evolução de Ferraz de Vasconcelos. Foi a saudade ocasionada por um breve distanciamento que a fez escrever o Hino da cidade. Foi a gratidão transformada em melodia e versos à cidade que a acolheu e proporcionou o desenvolvimento de tantas ações. Foi a pioneira na educação de jovens e adultos, cuidou dos mais vulneráveis e ainda amparou sua mãe até o último dia.

Seus pais trabalhavam no Correio de Santos. Inclusive, Maria Conceição passou em primeiro lugar no concurso em 1922. Conheceu seu futuro marido lá.  Casaram-se em 8 de dezembro de 1923. Em 1925 nasceu a primeira filha do casal, Maria Carlota. Em 1927 veio ao mundo Samuel Carlos e dois anos depois, a caçula, Célia Augusta, no dia 8 de julho.  Aos 6 anos de idade o garotinho faleceu, vítima de tétano. A perda foi avassaladora e fez com que a família se mudasse de Santos para Campinas, permanecendo lá até agosto de 1938. De volta a Santos, Célia passou a frequentar o Grupo Escolar Visconde de São Paulo Leopoldo e fazer parte do coral. Sua infância sempre foi marcada idas ao teatro, apresentações musicais e cinema.
Para atender a um pedido da filha mais velha que queria ser professora, a família retorna para São Paulo, mas ao prestar concurso para a Prefeitura de São Paulo Maria Carlota, chamada de Totinha, passou a trabalhar na Secretaria de Finanças e desiste do magistério.

No dia 6 de janeiro, Célia forma-se em Canto Orfeônico e tem a colação de grau no Teatro Municipal de São Paulo, onde fez a regência do Coral – considerado o mais importante de São Paulo, tendo como paraninfo, o compositor brasileiro Villa Lobos.

Com o casamento de Totinha, a família de Célia muda-se para Guarulhos e depois torna a São Paulo devido o estado de saúde de Ricardo, seu pai. Em 2 de agosto de 1956 ele morre. A matriarca da família passa a morar com a filha mais velha, na Barra Funda e Célia continua em São Paulo. Ela então pede à prima, Olga Homem de Mello – casada com Pedro Moura Maia, presidente do Banespa, – um emprego. Ele então pede ao amigo, Amador Aguiar, dono do Bradesco uma colocação. Logo ela passa a trabalhar no banco. Segundo seu livro de memórias, o pai de Célia havia comprado uma casa em Ferraz de Vasconcelos na Avenida Brasil, 440 e que estava alugada para um Posto de Saúde. Ao saber que estava desocupada, a mãe de Célia pede que ela saia do banco e as duas passam a morar em Ferraz de Vasconcelos a partir de 2 de janeiro de 1959.

Ao chegar na cidade, Célia, a mãe e sua tia, Diamantina, vão à Igreja Nossa Senhora da Paz. Encontraram uma moça cantando cantos religiosos e a tia tratou de apresentar todos os dotes de Célia. Na missa seguinte ela começa a tocar órgão e se torna a regente do “Coral Ferrazense”. O prefeito à época, Pedro Paulo Paulino, era admirador do grupo que se torna presença confirmada em todas as festividades da cidade. Mas, com a gravidez de Totinha, a mãe de Célia decide morar com a filha mais velha. Para não deixar suas atividades, Célia vinha aos fins de semana para Ferraz hospedando-se na casa de João Batista Camilo Neto e Hilda de Freitas Camilo. Posteriormente, sua mãe decide se mudar para a antiga casa de sua infância, em Santos.

Passados alguns dias, Célia entra em profunda tristeza por deixar seus amigos e atividades em Ferraz de Vasconcelos. Foi então que passou a escrever os versos para Ferraz de Vasconcelos. “Visualizei um desfile passando na Avenida naquele município, com a Banda tocando um Hino. A melodia eu a ouvi na minha mente e senti uma forte emoção”, conta Célia em sua biografia, referindo-se a composição do hino.

Tempos depois, ao visitar a irmã em São Paulo, Célia ligou para a amiga Edwiges que lhe disse que  o prefeito estava em busca de um funcionária para o setor de Expediente. Célia então escreveu uma carta endereçada a Paula, noiva de Antonio Freitas, direto do departamento. Sua carta impressionou o prefeito e ela foi aprovada para o cargo iniciando o trabalho em 3 de novembro de 1961.

Com a admissão, Célia e sua mãe mudam-se para Ferraz em um imóvel no número 1.040 na Rua Santos Dumont. Além do trabalho no administrativo da Prefeitura, Célia e a mãe lecionam no Ginásio Municipal.

Um ano depois, em 1962, é realizada a 1ª Festa da Uva Fina de Ferraz de Vasconcelos. De acordo com Célia, as semanas que antecederam o evento foram de muito trabalho, haja vista que ela estava na emissão dos convites e organização. Ela lembra que as uvas da festa eram da “melhor qualidade” com destaque para a “Golden Queen” e a “Itália”. A primeira edição da festa durou dois dias e contou com a presença da consulesa geral do Brasil na Itália, Dora Alencar de Vasconcellos, filha do engenheiro Ferraz de Vasconcelos, que dá nome à cidade. Na sequência do corte inaugural da fita simbólica foi tocado o Hino de Ferraz, momento que emocionou muito Dora, que fez discurso de agradecimento, sendo esta a primeira apresentação pública do coral sob sua regência.

Além da paixão pela arte e música, Célia esteve sempre à frente de seu tempo. Em 1970, soube que a Secretaria do Interior, em São Paulo, iria abrir o curso para formação de monitores (professores) para o Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral). Preocupada com o número de pessoas que não sabiam ler e escrever ela pediu autorização ao prefeito José Trevisani para participar do curso. Depois da formação, ela e mais 10 professores fizeram um levantamento do número de analfabetos e se iniciou assim o primeiro Mobral da cidade.

Católica atuante e preocupada com os problemas sociais fundou a Ação Promocional Comunitária Nossa Senhora Aparecida (APC) com aulas de artesanato, tricô, crochê, pintura, culinária e também aulas para a “bandinha infantil”.

Em 1972, Célia recebeu a Medalha de Honra ao Mérito da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, pelos trabalhos em prol da cultura de Ferraz. Em 1974, o prefeito Makoto Iguchi oficializa o Hino de Ferraz pela lei 885.

Em 1980, a mãe de Célia teve um AVC e ela passou a cuidar ainda mais dela. Em 1981, a Câmara Municipal outorgou o título de Cidadã Ferrazense pelos serviços prestados à cidade. Aposentou-se em abril de 1986. Em 6 de outubro do mesmo ano, Maria Conceição de Araújo morre. Célia passa a viver sozinha, mas ainda sim acolhe duas crianças que estavam desassistidas pelas famílias. Anos mais tarde retornam para suas casas. Depois se dedica aos cuidados de animais abandonados onde chega a ter 54. Atualmente, ela mora sozinha em Cotia-SP.